O trabalho da escola é construído na premissa de que somos seres sociais por natureza e, como tal, precisamos conviver com gente, de preferência, bem diferente de nós. Essa diversidade, além de representar um fato, o de que somos únicos, é também a maior riqueza de uma nação civilizada, pois ajuda a compreender e respeitar as diferenças como características do ser humano. Se somos seres plurais, como exercitar a cidadania sem privilegiar o espaço coletivo da escola? Isso não significa que a escola não precise melhorar. Mas daí a não reconhecer o valor social da escola é, no mínimo, desumano – para não dizer injusto – com as novas gerações.
Se lançarmos um olhar para o mundo do trabalho, teremos ainda mais elementos para defender a escola. Afinal, para operar dignamente na vida profissional contemporânea, são necessárias muitas habilidades para além das cognitivas. Hoje, é consenso que a maior parte das demissões acontece por falta de capacidade empática, de cooperação e de cocriação. Não nascemos sabendo operar dessa forma, precisamos aprender. E é para isso que os espaços de convivência em grupo e a pluralidade de experiências cognitivas, sociais, culturais e afetivas – que a escola proporciona – são ricas oportunidades para administrar alegrias e frustrações entre pares e professores e avançar no processo de humanização.
Se parássemos por aqui já teríamos argumentos suficientes. Porém, além de tudo isso, a escola é um dos mais importantes canais de denúncias, nos conselhos tutelares, de abusos por pais, mães e responsáveis contra a criança e o adolescente. São crimes que podem acabar ficando velados no espaço da família, visto que o Ministério da Educação e suas secretarias já encontram dificuldade de fiscalizar adequadamente o funcionamento das escolas – imagine, então, assumir a fiscalização em domicílios, aprovar e avaliar planos pedagógicos individuais.
Quando, de maneira rasa e simplista, se propõe comparação com países que implantam a política de homeschooling, é necessário considerar o valor que a educação formal representa para essas famílias, as quais, em sua maioria, investem recurso muito superior ao que investiria se seu filho estivesse em uma escola convencional. Cada vez que ampliamos o escopo de uma política pública e permitimos a escolha, antes é necessário avaliar o discernimento de quem pode escolher, entendendo que a alienação da sociabilidade compromete inexoravelmente o processo civilizatório.
Acedriana Vicente Vogel é diretora pedagógica da Editora Positivo.
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