No atual cenário da pandemia temos visto acontecer, em vários municípios e estados, a retomada presencial das aulas. Esse momento traz possibilidades de trabalho com os alunos respeitando as diferentes realidades e as orientações sanitárias propostas conforme cada situação. Dentre elas está o ensino híbrido.
Em 2015, no prefácio do livro “Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação”, José Armando Valente começa dizendo que o ensino híbrido veio para ficar. Cinco anos depois, com as mudanças trazidas pela pandemia, não se tem dúvida do contrário. O processo foi apenas acelerado, se é que podemos dizer isso.
O que é (e o que não é) ensino híbrido
Nesse mesmo prefácio, José Armando define o “ensino híbrido como uma abordagem pedagógica que combina atividades presenciais e atividades realizadas por meio das tecnologias digitais da informação e comunicação”. Entretanto, o grande mote está em colocar o estudante no centro do processo de aprendizagem. Assim, um ensino pautado apenas na transmissão das informações pelo professor perde o sentido nessa proposta.
O estudante como o centro desse processo, debate, argumenta, desenvolve o pensamento crítico e a resolução de problemas. O professor é o mediador, é aquele que “desenha experiências”, pesquisando os melhores meios para proporcionar o desenvolvimento de tais habilidades. A tecnologia é o suporte que possibilita o protagonismo estudantil e o desenvolvimento da cultura digital, estabelecendo um diálogo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). É o elemento mediador da aprendizagem e não se destina apenas a disponibilizar conteúdos.
Isso leva uma personalização da aprendizagem, ou seja, os estudantes aprendem em seu próprio ritmo e tempo. E você, professor e professora, encontra as melhores ferramentas que permitem a aprendizagem de todos. É uma grande mudança de concepção! É a possibilidade mais próxima para atender as demandas desse retorno presencial às escolas, diante de tudo que já estudamos.
Vale ressaltar que há alguns equívocos ao exemplificar modelos de ensino hibrido. Aulas transmitidas da escola para aqueles que estão em casa, aulas que acontecem no modelo remoto utilizada por tantos profissionais, enriquecer aulas presenciais com jogos online ou com apresentações de PPTs não se enquadram, por exemplo, dentro do conceito de ensino híbrido. Já que sempre o foco da aprendizagem está centrado no professor e o protagonismo estudantil não tem espaço.
Lilian Bacich, co-autora do livro que citei no início dessa nossa conversa, explica que na ótica do ensino híbrido planeja-se o que é para ser aprendido no presencial e o que é para ser aprendido no virtual cabendo ao professor conectar essas duas aprendizagens. Nesta reportagem de NOVA ESCOLA, você pode conferir mais detalhes sobre esse conceito. Aqui no site há também cursos relacionados ao tema.
E como fica a Matemática dentro desse contexto?
Se você tem buscado mudar o olhar para a forma de trabalhar a Matemática, certamente, estará mais aberto para colocar em prática a proposta do ensino híbrido. Isso porque você deve buscar dar voz e vez ao seu aluno, permitindo que ele construa o seu próprio conhecimento, interagindo com o outro.
Já deve ter começado a rever o espaço da sua sala de aula, trazendo novos materiais e novas propostas. Nesse momento de aulas remotas já deve estar mais próximo das tecnologias e dos jogos, por exemplo. Por isso, convido você a introduzir o ensino híbrido por meio da Matemática nesse retorno.
Se você ainda não se convenceu, lembre-se que a BNCC afirma que o “conhecimento matemático é necessário para todos os alunos da Educação Básica, seja por sua grande aplicação na sociedade contemporânea, seja pelas suas potencialidades na formação de cidadão críticos, cientes de suas responsabilidades sociais”. E qual forma de atingir a todos os alunos se não respeitando o tempo de cada um e adequando as formas de ensinar e aprender, ou seja, personalizando o ensino – o que é preconizado pelo ensino híbrido.
5 dicas para colocar em prática o ensino híbrido na Matemática
> Aprofunde os seus conhecimentos
Para começar é preciso aprofundar o que você já sabe sobre o ensino híbrido e as metodologias ativas. Conhecer cada modelo híbrido ajudará a escolher a melhor opção para colocar em prática em sua realidade, fazendo as adequações necessárias.
Como já disse o site da Nova Escola está recheado de possibilidades. A leitura do livro que citei anteriormente é também uma boa opção. Se quiser algo mais sintetizado, o livro “Metodologias Ativas de Bolso” de José Moran poderá dar uma visão mais geral sobre o que estamos falando.
Conhecer a teoria que embasa a prática é fundamental para você fazer as melhores escolhas e repensar sobre a sua ação. Sentir-se confortável (conforto dado pelo estudo) permitirá a inovação.
> Reorganize o espaço da sala de aula
Você pode iniciar sem usar as tecnologias, como uma forma de mudar a sua cultura, de rever o seu papel de professor e do seu aluno. Refletir até que ponto você utiliza a aula expositiva como forma de transmissão de conhecimento e não como mais uma possibilidade de contribuir para a construção do conhecimento. São pontos importantes a serem refletidos.
Leve os jogos, (re)aprenda a problematizá-los e a vê-los como uma estratégia mais significativa para que sua turma aprenda os diferentes conteúdos. Quando estiver mais confiante, passe a introduzir as tecnologias. Abra espaços para o celular e outros dispositivos.
Vale ressaltar que essa reorganização implica em repensar a disposição das carteiras: um atrás do outro não tem vez dentro dessa concepção!
> Planeje, planeje e planeje
Planejar é fundamental em qualquer situação. A sua intenção clara e objetiva só se concretizará a partir de um bom planejamento.
Planejando você estará apto também a enfrentar os desafios que aparecerão, antecipará boas perguntas que farão sua turma avançar, além de encontrar diferentes estratégias para atender as necessidades de cada estudante.
> Registre o seu percurso e o de seus alunos
Documentar e registrar, como já falei tantas outras vezes, permitirá que você entenda o que está fazendo e levante seus pontos fortes mostrando o que necessita mudar ou manter na sua trajetória.
Esse movimento contribuirá para sua autoavaliação e reflexões sobre a sua prática, bem como os avanços de seus alunos. No começo é um pouco difícil, mas a persistência pode te ajudar a consolidar esse hábito.
> Encontre o melhor modelo
O estudo, o planejar, o executar e refletir sobre os resultados permitirão encontrar o modelo híbrido que mais se adequa a sua realidade. Você conseguirá encontrar o melhor caminho para aliar as propostas de ambos os ambientes. Conheça aqui e aqui inspirações para você, que apesar de representarem realidades distintas, podem te ajudar.
E então, se animou? Vamos começar a introduzir o ensino híbrido pela Matemática? Tenho certeza de que você obterá excelentes resultados e o mais importante: estará trabalhando de forma a atender as demandas da sociedade do século XXI!
Como diz um velho ditado “uma andorinha só não faz verão” e é evidente que as redes de ensino precisam também subsidiar a implantação do ensino híbrido investindo na formação continuada do professor a partir desse viés, na adequação do currículo e na dinâmica do tempo e da sala de aula.
FONTE:https://novaescola.org.br/conteudo/19881/ensino-hibrido-na-matematica-como-aplicar-na-pratica
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