sexta-feira, 15 de março de 2019

Cresce violência nas escolas

Os atos de violência contra os professores têm aumentado, de maneira inquietadora, apesar das medidas tomadas pelas autoridades para coibi-los, como mostram dados levantados pela reportagem do Estado nas escolas públicas e particulares de ensino fundamental e médio do Estado de São Paulo. No primeiro semestre deste ano, foram registrados nada menos do que 548 boletins de ocorrência de agressão física de alunos contra professores, o que dá uma média de três por dia.
No caso da rede pública estadual, que conta com 5,2 mil unidades, dados da Secretaria da Educação indicam que aqueles casos de agressão subiram de 188 em 2015 para 249 em 2016. O problema não é de hoje. Resultados de um levantamento publicado em 2013 mostram que 44% dos professores da rede de ensino básico já haviam sofrido algum tipo de violência, sendo as mais comuns as verbais (39%) e as de assédio moral (10%). As de violência física não passavam de 5%, o que indica que a situação vem piorando.
Esse problema é um grande desafio para as autoridades porque tem vários aspectos importantes a serem atacados ao mesmo tempo, tais como a quebra de disciplina e autoridade – que começa em casa –, sem as quais a escola não funciona, a desestruturação da família, as carências sociais, a falta de perspectiva profissional para os jovens, em contraste com a sedução das drogas e do tráfico, e a difusão da cultura da violência. Sem se esquecer de que esse tipo de violência não é exclusivo das regiões e populações mais carentes.
Em contraposição a esta situação estarrecedora, em 2009, as autoridades educacionais de São Paulo lançaram a ideia inovadora da criação da figura de um professor mediador de conflitos para promover o diálogo e melhorar as relações entre os professores e os alunos. A ideia teve o apoio do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e da Prefeitura da capital e a participação, em sua implantação, do Tribunal de Justiça. A intenção dessa iniciativa é resolver os conflitos dentro da escola, evitando que eles descambem para a violência.
“Buscamos evitar a judicialização de conflitos. Desde criança se aprende que violência se responde com violência. E assim a justiça se tornou uma espécie de vingança”, afirma o juiz Egberto de Almeida Penido, que participa de um dos projetos desse programa, indicando o esforço que os mediadores devem fazer para matar no nascedouro o ciclo de ódio que leva à agressão.
Um exemplo dos resultados que podem ser obtidos com a ação dos mediadores de conflitos, citado pela reportagem, é o da Escola Estadual Sérgio Murilo Raduan, no Jardim Varginha, extremo sul da capital. Ali, só no primeiro bimestre de 2016, foram registrados 46 casos de desrespeito ao professor ou funcionário por aluno e neste ano, no mesmo período, o número baixou para 12 por causa do diálogo promovido entre as partes pelos mediadores, precedido de uma calma conversa com o aluno exaltado.
Apesar desses resultados animadores, os números que mostram o aumento das agressões deixam claro que a ação dos mediadores de conflito não é uma panaceia. Tem limites. Quando o diálogo falha e a agressão ocorre, quebrando o princípio da autoridade – além, é claro, do dano físico ou moral causado ao agredido –, o caso tem de ter desdobramentos administrativos e criminais. O agressor tem de ser responsabilizado por seus atos.
Todos os esforços devem ser feitos, em todos os planos possíveis, para atacar o complexo problema da violência entre os jovens. Mas, ultrapassado o limite da integridade física e moral, assim como o da disciplina em sala de aula, não pode haver tolerância com a violência. O recente episódio da brutal agressão sofrida pela professora Márcia Friggi, da cidade de Indaial, em Santa Catarina – que está longe de ser um caso isolado –, vítima de um aluno de 15 anos, que já havia agredido antes a própria mãe, mostra o alto preço que sempre se paga por tolerar a impunidade, dentro ou fora das escolas.

Alunos discutem causas e soluções para a violência escolar

O tema violência escolar não pode ser analisado a partir de um único ponto de vista, já que existem diferentes fatores para que essa violência aconteça como o social, o político, o econômico e o cultural. E para acabar com a violência no contexto escolar é primordial a conscientização dos alunos quanto aos danos que ela traz à vida de todos. Essa foi a constatação dos próprios alunos do ensino médio, entrevistados para estudo feito na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.
Participaram do estudo alunos de uma escola de ensino médio do município de Alfenas, Minas Gerais, que mostraram seu posicionamento em relação à violência que abrange todo o contexto escolar. Segundo a enfermeira Michelly Rodrigues Esteves, autora da pesquisa, “no Brasil, os adolescentes estão entre os grupos populacionais mais vitimados pela violência, que apresenta diferentes tipos, sendo apontados no estudo três tipos: verbal, física e psicológica”.
Para os adolescentes entrevistados, a violência dentro da escola começa com a falta de aceitação das diferenças, que pode ocorrer entre os alunos, entre professores e alunos e, também, entre funcionários e alunos. “A direção da escola e os professores também são considerados agentes de violência quando são extremamente autoritários, deixando de ouvir o que os alunos têm a dizer”, conta a pesquisadora.
Além da intolerância com as diferenças, sejam elas de gênero, físicas ou sociais, de acordo com Michelly, as atitudes violentas começam com palavras agressivas, que em alguns casos, constituem uma forma de chamar a atenção dos colegas e, até mesmo, dos professores e, a partir disso, geram atitudes mais severas. Segundo relato dos alunos, “a agressão física pode ser uma alternativa quando a conversa não resolve e quando as pessoas se mostram muito provocativas em público”.

De fora para dentro

Além da violência que já começa dentro da escola, ela também pode ser ocasionada por influências externas, como é o caso da rua e da família. Para a pesquisadora, o adolescente entende a rua como assustadora ou acolhedora. “Ela pode ser também um local de refúgio, onde eles encontram amizades, liberdade e, consequentemente, descobertas, que nem sempre são classificadas como boas”. Nesse caso, diz Michelly, o aluno tende a levar o que aprende na rua para dentro da escola.
Quanto ao papel da família, segundo Michelly, muitas vezes os pais se envolvem de forma insuficiente na vida dos filhos, sendo possível perceber uma relação pouco harmoniosa entre família e escola. A violência psicológica e a física, diz a pesquisadora, são aplicadas em algumas famílias como medidas punitivas e disciplinatórias e não são raros os relatos de filhos que presenciaram ou que ainda presenciam a violência sofrida por suas mães. “A instituição família precisa ser fortalecida, ter os seus princípios e os seus valores devidamente alicerçados e reconhecidos na parceria junto à escola”, conclui Michelly.
Para evitar a violência dentro da escola e facilitar a convivência social existem normas, regras de conduta e de funcionamento do local. Para a pesquisadora, os sistemas de ensino devem introduzir, desde os primeiros anos, a Educação para a Paz e a mediação de conflitos nos currículos escolares. “As escolas devem estimular as crianças e os adolescentes para terem capacidade de reflexão, contextualização, e mostrar que todos os seres humanos apresentam suas diversidades e por mais diferentes que pareçam têm necessidades comuns aos demais e devem ser trabalhadas na comunidade escolar a intolerância com as diferenças”, diz a orientadora do trabalho professora Maria das Graças Bomfim de Carvalho.
A tese de doutorado Violência no contexto escolar sob a óptica de alunos do ensino médio foi defendida no ano passado. O estudo recebeu o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Título da Redação:

As causas da violência escolar e seu tratamento.

Redação enviada há quase 3 anos por Matheus Pena Coelho Pena Coelho

A violência nas grandes cidades brasileiras teve um aumento exponencial à partir dos anos 1990, quando passou a atingir também as escolas. A crescente violência nas escolas brasileiras vem recebendo cada vez mais destaque na mídia As discussões para tentar definir os motivos e o que fazer para lidar com esse problema, entretanto, não apresentaram, até os dias atuais, algo efetivo para tratar desse problema.
O respeito à autoridade do professor decaiu bruscamente nos dias de hoje. Isso é fruto de péssimos exemplos de autoridades que não cumprem seu dever perante o povo brasileiro. Governadores, prefeitos, vereadores e a própria polícia são exemplos dessas autoridades que perderam a credibilidade nas últimas décadas, devido à corrupção, falta de moralismo, falta de ética e falha em cumprir seus deveres. Todos esses maus exemplos e a rebelião contra os mesmos citados, dificultam o desenvolvimento do respeito do aluno por uma autoridade, como é o caso do professor em sala de aula.
A expansão da violência geral nas grandes cidades é o fator mais significativo para compreender a violência escolar. As periferias das cidades grandes, onde habitam a grande maioria dos alunos de escolas públicas, são os lugares de maior incidência de crimes e da marginalização. A falta de qualidade no ensino público não impulsiona o aluno a passar em vestibulares e o aluno percebe isso. Como disse Paulo Freire: Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor. Os oprimidos aos quais Paulo Freire se referia são os pobres, marginalizados, à beira do sistema de ensino do governo, que não oferece uma educação didática digna à grande parte dos alunos.
Outro fator que remete à violência nos dias atuais é a exposição de brigas e rebeliões de jovens e adolescentes nas redes sociais. São organizados “torneios” ilegais de combate entre alunos, sejam da rede pública ou privada. Às vezes são feitos até mesmo dentro das dependências do colégio (como o caso exibido em uma matéria do programa Fantástico da Rede Globo) e após as lutas, os vídeos são postados na internet , exibidos e compartilhados. Diversas formas de bullying também são postadas nas redes sociais, continuando a difamação para com o aluno ou professor que está sendo vítima, mesmo após as aulas.
Tendo em vista os fatores apresentados, a solução para reduzir a violência escolar deve ser executada pelo Governo e pelos pais e contar com a colaboração dos administradores das redes sociais. O governo precisa investir na infraestrutura dos colégios, no material didático e no plano de estudo que os professores irão apresentar aos alunos durante o curso. Um projeto de educação cívico moral deve ser realizado nas escolas públicas e privadas de todo o Brasil, visando orientar os alunos e professores das escolas a como se portar nas aulas e a respeitar o poder do professor na sala de aula. Os pais devem cumprir seu papel de ensinar os filhos a respeitar à autoridade do professor e procurar saber sobre o comportamento do seu filho em sala de aula. As redes sociais, por sua vez, devem colaborar com a polícia, a fim de restringir o acesso aos vídeos e postagens de violência e bullying e punir os colaboradores dessa violência. Dessa forma, o combate à violência escolar será executado de modo eficaz e trará um ambiente de estudo melhor para todos os envolvidos na educação.

Somos todos responsáveis pela violência nas escolas

 POR UMA ESCOLA LIVRE DE VIOLÊNCIA

As notícias recentemente veiculadas sobre agressões de alunos a professores em escolas têm uma forte vertente sensacionalista e um viés um tanto superficial, ouvindo basicamente a perspectiva dos adultos (mesmo assim, não a de todos os envolvidos na comunidade escolar) e realçando prioritariamente a violência dos alunos contra os professores.  Isso é um desserviço à educação porque cria estigmas, simplifica a questão e induz à busca de soluções igualmente simplistas e, por isso, ineficientes. Na verdade, alimenta o problema. A violência na escola é uma questão muito séria e complexa e merece um olhar cuidadoso e responsável.
Se é verdade que a violência está na sociedade e não apenas na escola, que a reproduz, é verdade também que há violências produzidas no interior da própria escola. Muitas delas funcionam como prisões e lançam mão de formas autoritárias de “manter a disciplina”; baseadas mais nas interdições – no que é proibido – do que no investimento na formação de sujeitos capazes de praticar formas democráticas de convívio, as escolas produzem assim um contexto potencialmente violento.
Para esta discussão é necessário olhar as muitas violências que ocorrem no cotidiano da escola: as institucionais, as interpessoais, as físicas, psicológicas, simbólicas… Todas geram uma pressão contínua e que podem causar explosões  – maiores ou menores – em determinados momentos e situações. Não queremos com isso minimizar ou justificar a gravidade das agressões dos alunos, pelo contrário. Estes fatos explicitam a situação extrema de hostilidade no ambiente escolar.
Adultos e estudantes são agentes e vítimas dessas violências. Preconceitos, discriminações, humilhações, desrespeito.  Do ponto de vista dos alunos, uma das violências mais sentidas – e permanentes – é o não atendimento de suas necessidades de aprendizagem e a falta de sentido do que se ensina e do que se aprende, que acabam funcionando como formas de submissão. Outra é a invisibilidade dos alunos gerada pela falta de escuta, de espaços de participação e de reconhecimento de suas demandas.
Ao mesmo tempo, os adultos da escola têm uma rotina puxada, atuam sem condições de trabalho adequadas, que garantam tempo e espaço para se dedicar à complexidade educacional, e nem sempre são autoridades legitimadas pelos alunos.  Na prática, fica uma tensão entre o desafio de ensinar conteúdos e o gerenciamento de indisciplinas dos alunos, e assim, a escola não consegue cumprir sua função primordial de educar, pois ninguém aprende e ninguém educa em um ambiente inóspito.
A experiência do projeto Respeitar é Preciso! mostra que sem dar atenção às questões que perpassam o cotidiano escolar, o caldo de violências é continuamente engrossado por discriminações e preconceitos de todo tipo. Nestas condições, as relações internas da escola tornam-se tensas, desgastantes e pouco frutíferas.
A violência nas escolas, um tema difícil, precisa ser analisada com a seriedade necessária. Nos preocupa muito a abordagem e o tratamento simplista dado pela mídia ao tema que, sem contextualização adequada, pode levar a conclusões enviesadas. Apontar, mais uma vez, os alunos como os culpados pela grave situação de violência nas escolas é injusto, perpetua o estigma e não encara o problema de frente.
Equipe do Respeitar é Preciso!Instituto Vladimir Herzog


quinta-feira, 14 de março de 2019

Líder na agressão de professores, Brasil convive com violência nas escolas

Indicadores globais mais recentes colocam o Brasil como o país mais violento contra professores. Apenas no estado de São Paulo, o número de docentes que disseram ser vítimas de algum tipo de violência cresceu nos últimos anos.
De acordo com a pesquisa mais recente realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2013, 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana.
É o percentual mais alto entre os 34 países analisados. O índice médio global é de 3,4%. Logo abaixo do Brasil, está a Estônia, com 11%, e a Austrália, com 9,7%. Já na Coreia do Sul, na Malásia e na Romênia, o índice é zero.
O levantamento foi feito com mais de 100 mil professores e diretores de escola do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio (alunos de 11 a 16 anos) em 34 países.
Uma outra pesquisa sobre o assunto feita pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), em 2017, revela que 51% dos professores da rede estadual já sofreram algum tipo de violência _percentual acima dos 44% registrado três anos antes.
Para a socióloga e coordenadora do programa de juventude e políticas públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Miriam Abramovay, essa violência nas escolas só diminuirá com a implementação de políticas públicas voltadas para o tema.
“Tem de haver uma política pública de convivência escolar, onde se realize diagnósticos. Sabemos qual escola tem a melhor nota, mas não sabemos absolutamente nada sobre o clima escolar dentro dessas escolas”, afirma Abramovay.
Armamento

Segundo especialistas, o massacre na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), na manhã desta quarta-feira, 13, reflete a falta de segurança no ambiente escolar e a solução não passa pelo armamento.   
“Se o país passar a ter acesso muito mais livre às armas, vamos poder chegar a níveis desse tipo de crime dentro das escolas como os dos Estados Unidos”, afirmou a especialista em violências nas escolas e juventudes.
Para ela, esse é um caso específico. “Ninguém acha que amanhã vai todo mundo sair armado e sair matando nas escolas. Claro que esses dois jovens tinham algum tipo de problema. Não podemos achar que esse será um comportamento repetitivo.”
A presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo, rechaça teses que defendem o uso de armas por professores para diminuir a violência. Segundo ela, a presença de armas no ambiente escolar transformaria o espaço de aprendizado em uma “guerra”.
“Quem falou que professor está preparado para dar tiro? Professor está preparado para ensinar. A questão da violência tem que ser vista como mediação e não algo a ser combatido”, comenta ela.
Atentado em escola que deixou dez mortos, em Suzano
Ações preventivas

Entre as medidas apontadas como soluções para evitar ataques como o de hoje, Azevedo defende a presença de mais inspetores. Para ela, esses profissionais, acompanhados de material técnico como câmeras de segurança, ajudariam no controle da violência.
Outra medida que, na opinião dela, ajudaria na segurança das escolas seria uma presença maior.